Quid Iuris?

Proibido proibir!

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Tuesday, September 25, 2007

Há perguntas que não poderíamos responder se não fôssemos homens livres (Kafka)




(Foto de Inês Sacadura)

...


Foram colocados diante desta alternativa: tornarem-se reis ou mensageiros.

À maneira das crianças, todos quiseram ser mensageiros.

É por isso que os mensageiros são uma legião, percorrendo o mundo, e como não há reis, gritam-se uns aos outros as mensagens insensatas.

Uma gaiola partiu à procura de um pássaro (Kafka)

(Foto de Jorge Filipe pires)

Larachas...

...



Há dois pecados humanos capitais dos quais derivam todos os outros: a impaciência e a preguiça.

Por causa da impaciência fomos expulsos do paraíso.

Por causa da preguiça não regressamos lá.

(Franz Kafka)

Monday, September 17, 2007

banda sonora para hoje

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Velvet underground cantando sunday morning

degustai, meu povo!

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Look at that body...she's all verbs...
(Woody Allen)
Olha para aquele corpo...ela é toda verbos...

...

A que horas chegas?


Ficou meu olhar perdido pra sempre
Naquela janela virada pra dentro
De onde se vê nada, de onde tudo mente
Onde o tempo não passa, nem depressa, nem lento...
(foto de Carlos Mendes)

Aceito sugestões para o título deste post

Não há nada mais emocionante do que entrar numa sala cheia de pessoas que esperam pelo mesmo que nós. Ao mesmo tempo que as pessoas tendem a solidarizar-se como os leprosos num sanatório, abraçando-se, irmãos em um destino comum e fatal, acabam por revelar aos poucos um mesmo desprezo e repulsa uns pelos outros, ou se calhar, por si próprios. Como os reclusos do sanatório se iludem com falsas esperanças de cura (porque a sua doença não é tão grave como a dos outros, coitados), eles sim, sairão em breve, abraçados pela família, pelos filhos que não viram nascer.


Aquela com ar de quem não aprendeu para que servem as várias muitas letras do abecedário com certeza não pensará em concorrer ao lugar a que eu vim concorrer. Aquele ali parece ainda não ter conseguido expulsar a náusea e a dor do álcool que lhe fermenta no estômago desde ontem. Outro não conseguiu perceber que a porta tem instruções estrategicamente colocadas para ser mais fácil saber-se que para a abrir dever-se-á puxar a maçaneta e não empurrar ou esperar que ela se abra como na gruta do sésamo. Chega um inocente...
“Desculpe...”
“É o número 25?”
“Não, não...”
“Tire uma senha e aguarde. 25!”
“Desculpe, mas eu só queria saber se...”
“Tire uma senha! 25!”
“Mas era...”
“Número 26!”
De inocente passou a desistente e juntou-se aos restantes. Porque é mesmo assim que se sentem os outros. Os restantes. Restos de um universo repleto em que se entra apenas quando se abre uma vaga por falecimento, desistência ou expulsão de um dos outros. Como almas que esperam encarnar em largas filas numa eternidade que lhes pesa como um corpo morto. Quase desejando que morra alguém para terem a sua vez. Secretamente maquinando epidemias e surtos fatídicos. Visivelmente satisfeitos com os imaginados resultados dos seus atentados bombistas.


Aos poucos as caras vencidas pela espera se vão normalizando em expressões iguais de quase-sorrisos mecânicos. É preciso mostrar superioridade. Afinal eu não sou igual a estes outros desesperados. Esta não é a minha última oportunidade. Ainda nem sequer é a primeira. Estou aqui como poderia estar em outro lugar. Eu tenho a vida toda à minha frente. Tenho planos para o futuro. Tenho projecto de vida. Tenho um curso universitário. Tenho diploma. Tenho uma das melhores médias do meu curso. Tenho tempo. Tenho tanto tempo…