Quid Iuris?

Proibido proibir!

Name:
Location: Portugal

Wednesday, March 15, 2006

A GUERRA

...


Consegui! Estive mais de duas horas a ouvir falar de guerra numa conferência e não disse nada! A sério! não fiz nenhuma pergunta, não teci qualquer comentário, nada! Só ouvi falar da guerra, das teorias da guerra, das razões da guerra, das pessoas que fazem a guerra, dos países que se defendem da guerra, muitas vezes, através da guerra e dos que fazem a guerra entrar pelas nossas casas a dentro. Foi bonito.

Primeiro conversámos sobre como o homem tem uma predisposição, sabe-se lá se genética, para o conflito e que muitas vezes esses conflitos escalavam para um último plano que seria o da guerra.

Depois falamos de teorias de conspirações de sociedades secretas, ou não, que manipulam tudo e todos em defesa de interesses económicos neoliberais para criar e/ou manter guerras.

Discutiu-se o conceito da guerra justa, se ela existe ou não, e, existindo, quem julgará a sua justiça.

As questões que calei e que agora vos coloco são estas:

- Por muito manipuladores e poderosos que sejam os Bush, os Blair, os Bin Laden, os Iluminati, eu sei lá mais quem que controlarão "o sistema", são as pessoas que fazem a guerra. Não falo de pessoas no geral, este ou aquele povo, esta ou aquela nação, mas o Zé e o Joaquim ali da esquina.

O que faz uma pessoa pegar em uma arma e disparar e tirar a vida a outra pessoa, porque lhe foi assim ordenado por um poder superior que, para ele não tem rosto, não tem voz, apenas se expressa na figura de um retrato, tipo Big Brother, que aparece no horário nobre a apelar ao amor à patria?

O que faz uma pessoa, como o tio Manel ali do café, acordar de manhã, vestir-se com um colete de explosivos e, lúcido, explodir-se num comboio ou num autocarro para matar outras dezenas de pessoas inocentes?

- Ah, mas isso são pessoas que foram educadas numa cultura de violência, de fundamentalismos religiosos (nem sei se neste momento existem outros tipos de fundamentalismos, depois desta tomada monopolista do religioso).

Eis a verdadeira questão que vos queria colocar e que a mim coloco também:

Qual é a diferença entre:

- pegar numa arma para matar o próximo,
- carregar num botão de missil para matar centenas de próximos,
- explodir-se na via pública para matar a si e a outros próximos (no sentido literal também),
- observar fascinado a morte de um sem número de pessoas na Tv e não sentir um mínimo arrepio.

A) a diferença está na quantidade de pessoas que se matam, como acontece nas promoções.
B) a diferença está em se as pessoas que se matam são conhecidas, ou se são daqueles povos distantes com os quais não temos relações históricas e que, portanto, podem morrer à vontade.
C) a diferença está no tipo de arma que se usa, sendo que morrer de AK47 é muito mais bárbaro que morrer de míssil, que é mais chic.
D) a diferença está em que uns matam porque são do bem e outros porque são do mal; assim como o Clark Kent é claramente do bem e o Lex Luthor é claramente do mal, o que declara a guerra é geralmente do bem, ou do mal, ou assim assim...
E) a diferença é que quando eu vejo alguem morrer na tv vezes e vezes sem conta (uma vez em cada horário nobre, mais outra nos vários directos a multiplicar por vários canais e internet) e continuo fascinado por aquelas imagens que não consigo deixar de ver, não sou tão mau quanto aqueles que matam uma vez e vão embora. Eles têm uma arma na mão, eu só tenho um telecomando. Eles matam uma vez, eu posso ver aquilo repetido à exaustão e quando ela chegar, mudar de canal e ver imagens novas. E isso faz de mim uma pessoa normal.

Ser humano é ser violento? É ter prazer na violência? É ser indiferente à violência que é praticada contra outros?

A guerra não nos tira o sono. A morte do inocente não nos tira o sono. A opressão dos indefesos não nos tira o sono. Será que merecemos dormir descansados?

Cito um dos maiores constitucionalistas americanos: "Aqueles que para terem segurança sacrificam a sua liberdade, não merecem ter nem uma nem outra".

0 Comments:

Post a Comment

<< Home