O amor é um resto de infantilidade que nos fica da infância.

Quando crescemos, deixamos de acreditar nele. Talvez no mesmo momento em que percebemos que já não é preciso deixar leite e biscoitos para o Pai Natal porque as renas gostam mais de vegetais.

Mesmo assim, há momentos em que nos apetece acreditar. Momentos em que precisamos de acreditar. Assim como mesmo sendo adultos, ainda há momentos em que nos apetece pregar partidas, jogar à apanhada, dar uma canelada nos malvados, espreitar as saias das meninas, sonhar coisas absolutamente impossíveis, mas que sabem tão bem, e rir, rir muito de coisas parvas, pequenos nadas, quando ninguém está a ver.

Já não acreditamos em fadas e dragões, mas queremos tanto que haja ainda princesas e príncipes e reinos distantes e encantos fantásticos e finais felizes. Não é por nada. É apenas uma opção estética. Porque nos contos de fadas, não há pó em cima da carruagem que leva os amantes. Porque nos contos de fadas, só as bruxas são feias e só o vilão é malvado.

Como acontecia na nossa infância, às vezes, também aparece um adulto que nos diz que já não podemos sonhar com encantamentos. Que o amor afinal não existe. Que alguém comeu os biscoitos que deixamos e se riu da nossa ingenuidade. E ninguém quer brincar connosco e toda a gente brinca connosco. Porque somos os meninos pequeninos, armados de espadas de madeira tosca, com uma capa feita de lençol e um balde por capacete, querendo ainda acreditar, procurando alguém que também queira brincar.

E se calhar o amor é isso. Alguém que queira brincar ao faz-de-conta connosco. E que não tenha vergonha de andar por aí connosco, de lençol, balde e mãos dadas, à procura de grandes aventuras.