Quid Iuris?

Proibido proibir!

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Location: Portugal

Monday, September 17, 2007

Aceito sugestões para o título deste post

Não há nada mais emocionante do que entrar numa sala cheia de pessoas que esperam pelo mesmo que nós. Ao mesmo tempo que as pessoas tendem a solidarizar-se como os leprosos num sanatório, abraçando-se, irmãos em um destino comum e fatal, acabam por revelar aos poucos um mesmo desprezo e repulsa uns pelos outros, ou se calhar, por si próprios. Como os reclusos do sanatório se iludem com falsas esperanças de cura (porque a sua doença não é tão grave como a dos outros, coitados), eles sim, sairão em breve, abraçados pela família, pelos filhos que não viram nascer.


Aquela com ar de quem não aprendeu para que servem as várias muitas letras do abecedário com certeza não pensará em concorrer ao lugar a que eu vim concorrer. Aquele ali parece ainda não ter conseguido expulsar a náusea e a dor do álcool que lhe fermenta no estômago desde ontem. Outro não conseguiu perceber que a porta tem instruções estrategicamente colocadas para ser mais fácil saber-se que para a abrir dever-se-á puxar a maçaneta e não empurrar ou esperar que ela se abra como na gruta do sésamo. Chega um inocente...
“Desculpe...”
“É o número 25?”
“Não, não...”
“Tire uma senha e aguarde. 25!”
“Desculpe, mas eu só queria saber se...”
“Tire uma senha! 25!”
“Mas era...”
“Número 26!”
De inocente passou a desistente e juntou-se aos restantes. Porque é mesmo assim que se sentem os outros. Os restantes. Restos de um universo repleto em que se entra apenas quando se abre uma vaga por falecimento, desistência ou expulsão de um dos outros. Como almas que esperam encarnar em largas filas numa eternidade que lhes pesa como um corpo morto. Quase desejando que morra alguém para terem a sua vez. Secretamente maquinando epidemias e surtos fatídicos. Visivelmente satisfeitos com os imaginados resultados dos seus atentados bombistas.


Aos poucos as caras vencidas pela espera se vão normalizando em expressões iguais de quase-sorrisos mecânicos. É preciso mostrar superioridade. Afinal eu não sou igual a estes outros desesperados. Esta não é a minha última oportunidade. Ainda nem sequer é a primeira. Estou aqui como poderia estar em outro lugar. Eu tenho a vida toda à minha frente. Tenho planos para o futuro. Tenho projecto de vida. Tenho um curso universitário. Tenho diploma. Tenho uma das melhores médias do meu curso. Tenho tempo. Tenho tanto tempo…

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Como sugestão para o título, fica este; "Gve me the FXXXX job"!!

7:28 AM  

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